“Tivemo-los em casa”

Já ia quatro anos, quando nasceu o meu António. Ao fim, ainda esteve mais quatro anos, é que nasceu a rapariga. Nasceram na Fajoeira. Acho que têm quatro anos de diferença um do outro. Tivemo-los em casa. Eram os próprios pais que ajudavam. O meu António, fui eu que o amparei. Eu é que o trabalhei, que assisti. A rapariga já foi a minha cunhada. Lá assistiu ao parto. Depois, as mães tinham que se tratar com caldos de galinha. Faziam-se aí uns tantos meses para ela tomar sezão para trabalhar. Dava-lhes os peitos e assim se iam governando. Agora é biberões, é uma coisa, é outra. Já nem querem dar o peito nem nada.

Daí, lá se foram trabalhando. Quando o meu António nasceu, já havia escolas. Ele andou na escola. Fez o quarto ano e exame. Eu queria que ele estudasse, mas ele não quis. Agora, às vezes, diz assim:

- “Ó, pai, estou tão arrependido de não estudar mais! Ai!”

- Quando te eu disse que estudasses, não querias. Que já chegava, que assim, assado, que já andavas aborrecido da escola. Mas agora já te sabia bem?

- “Fui um grande parvo! Você ainda pagava e assim... Agora, aprendi muitas coisas, mas já eu tive de pagar...”

- Vês? Estás a ver como é que é?

E a rapariga a mesma coisa. Andou na escola aqui em Chãs d'Égua. Eu ia esperar a professora ali nas - chama-se lá - Pedras Lavradas, que vem do Fundão para cá. Ela era do Fundão. Vinha aqui dar escola em Chãs d'Égua. Eu ia lá esperá-la, porque ela não sabia o caminho. Levantava-me às cinco para lá estar à hora que ela chegava, por volta das nove, dez horas. Daí, tinha de vir com ela por aquela serra aquém e descermos para os Chãs d'Égua. Fui lá buscá-la muita vez.