Ramos e Santa Cruz

No Domingo de Ramos, íamos ao Piódão com os ramos. Com o loureiro. Fazíamos a festa, levávamos um ramo e íamos aí pia fora com ele ao ombro por esse caminho. Íamos a pé tudo para cima. Quem queria levar grande, levava grande. Quem queria levar pequeno, levava pequeno. Eu levava sempre um grande, quase da minha altura. Quando ainda estava lá o coro, às vezes, as raparigas estavam por baixo. A gente - aqueles que levavam uns ramos grandes - em lugar de os virarmos para cima, virávamo-los era para baixo. Tirávamos-lhes os lenços da cabeça com os ramos. Elas estavam lá com a cabeça... Pumba, levávamos-lhes o lenço. Botavam-lhos todos para o chão. Tudo na paródia! Elas olhavam para cima:

- “Malandro! Malandro!” - falavam de baixo - “Malandro! Malandro!”

Punham o lenço na cabeça. Daí por nadita, estavam descuidas, lá vai o lenço outra vez com o ramo.

No Dia de Santa Cruz, fazemos as cruzes. Chama a gente assim. É bom pôr a cruz. Faz-se uma cruzinha e põe-se nas padieiras e na fazenda. Com aqueles ramos de louro bentos que a gente trazia lá da igreja. Eram benzidos na igreja. Faz-se uma coisa num pau, adicionam-lhe um ramo e põe-se aí a guardar os terrenos. Têm de as pôr todos os anos. Não se tiram. O meu vizinho já há seis, cinco anos que lá tem as dele.