“Lembro-me como se fazia o pão”

O milho era malhado, debulhado, seco e daí ia ao moinho. Faziam a farinha. Depois, ia para o forno. Ainda agora boto uma “fogueirada” ao forno. Lembro-me como se fazia o pão. Até era capaz de o fazer ainda! A gente botava a farinha para dentro. Era peneirada com uma peneira redonda, com um crivo com uma coisa no fundo. Caía para dentro de um tabuleiro. Naquele tempo chamavam gamela. Era do feitio de uma mesa. Agora é que dizem que é tabuleiros. A gente fazia ali um alqueire dela. Amassava-se, botava-se o fermento da mesma farinha e fazíamos uma fornada. Os restos que ficavam apanhavam-se bem apanhadinhos, botava-se para dentro de uma tigela. Fazia-se-lhe uma cruz, botava-se-lhe sal e ali estava para levedar para outra vez, para quando se quisesse cozer. Toda a gente tinha fornos. Se não tinham, pediam:

- “Ó, vizinha, deixa-me ir pôr o meu pão no teu forno.”

Levava lenha e ia aquecer o forno. Daí, ela apagava a sua farinha, a sua broa amassada. Às vezes, estavam duas pessoas a cozer pão. Às vezes, aos três e aos quatro. Ali no Piódão, uma ocasião, fui ajudar um senhor. Eram lá umas sete mulheres a pôr pão para dentro de um forno. Cada uma contava as suas. Aquela contava as dela e eu contava as minhas. Quando era ao tirar:

- “Eu tenho tantas.”

Outra tinha tantas. A farinha era tudo igual:

- “Tens aí as tuas, aquele tem as dele, aquela tem as dela e aquela tem as dela.”

Contava-as todas. Às vezes, não cabiam no forno. Amassavam a mais, não cabia lá toda. Sobrava farinha e massa. Levavam-na, com licença, para os porcos.