“Tenho saudades de vir ali lavar”

Água canalizada, não havia. Íamos buscar à fonte num cântaro. Governávamo-nos assim para cozinhar e para nos lavar. Íamos lavar a roupa ao ribeiro ou ao lavadouro. Antigamente era ali que lavavam. Não havia máquinas de lavar como há agora. Agora, já toda a gente tem. Juntavam-se ali as mulheres. Não eram muitas, porque isto era um meio pequeno. A água aqui também lava muito bem. Como é pura, não fica a roupa rija. Ficava muito bonita e muito bem cheirosa, porque a coravam. Não é como nós, agora. Pomos ali, lavamos, vamos estender. Dantes, lavava-se e punha-se a roupa ao sol a corar. Ficava impecável. Agora cheira é ao detergente que a gente lhe põe. Há detergentes, que eu não gosto. Nem gosto de amaciador, seja qual for. Gosto assim ao natural. A roupa, antigamente, ficava com um cheirinho muito agradável.

Ainda tenho saudades de vir ali lavar. Dantes, gostava de ir à fonte lavar os meus tapetes, as minhas passadeiras, as minhas coisas. Agora já nem tanto. Lavo no terraço com a mangueira e com uma escova. Mas não ponho as calças do meu marido - que são muito sujas da terra - na máquina sem as esfregar antes. Por desporto ainda gosto de ir lá. Com uma escova, esfrego, bem esfregadinho. Depois é que ponho na máquina, para que fiquem bem lavadas. Senão, não ficam. Só se lavasse duas ou três vezes. Não estou para isso. Ainda se eu enchesse uma máquina só de calças... Mas quando ele suja umas, eu vou lavá-las que não gosto de juntar. Gosto. Dá-me gozo estar ali.