“O Dia de Santa Cruz”

No dia 3 de Maio - eu era miúda e lembro-me de fazerem isso - chama-se cá o Dia de Santa Cruz. Todas as pessoas punham uma cruz no campo. Punham no cimo de uma cana, com umas folhas de louro, umas folhas de oliveira, uns ramos de alecrim e iam pôr nos campos, para que os abençoasse, para que viesse bom renovo. Possivelmente, já punham nas portas para guardar a casa. Era uma tradição. Eu até acho engraçado. O meu marido tem muito essa mania. Como nós estávamos cá, ele ia pôr às minhas primas e aos vizinhos. Digo assim:

- Ó marido, por favor! Pões na nossa porta! Porque é que tu andas a pregar?

- “Ai, é bonito... É para não deixarmos morrer a tradição, que é muito bonito...”

- Oh marido, agora! Tu sabes lá se as pessoas gostam...

- “Gostem ou não gostem! É a tradição, é a tradição! Não podemos deixar morrer cá os nossos costumes!”

E ia pôr. Já temos aqui muitas. Cada ano se põe uma. E eu já disse:

- Ó marido, então, pões uma e tiras a outra!

Mas ele, não! Põe-las todas. As que lá estão ficam. Depois, vai pondo, vai pondo... É a tradição das cruzes.