“Era assim que se faziam os queijos”

O queijo fazia-se à mão. Era manual. Acho que ainda é assim que fazem. Tiravam o leite das cabras e das ovelhas. Traziam para casa e punham à beira do lume a ficar mornito. Não podia ser quente, nem frio, senão não coalhava. Depois passavam. A minha mãe tinha um potinho com asas. Punha-se um pano na boca e passava-se o leite, para não ficar com os lixitos que trazia. Algum cabelo ou alguma impureza ficava no pano e o leite limpinho caía para dentro da panela. Depois, punha-se-lhe umas ervas que se chamam cardo. Punha-se numa tigelita, pisava-se com o rabo de uma faca e deitava-se um bocadinho de água. Largava uma água escura. A gente coava aquilo num pano para que não passasse nada. Depois mexia no leite para ficar bem misturado e o leite coalhava aí em uma hora, uma hora e pouco. Depende. Então, fazia-se o queijo. Tinham um acincho. Punha-se dentro de um prato, punha-se a coalhada dentro do prato e ia-se espremendo com a mão. Largava o soro, que se juntava para a panela, onde tínhamos o leite. O soro dava-se ao porco ou aos gatos, que também gostavam, ou deitava-se fora. Cá não faziam requeijão. Quando os animais bebiam, bebiam. Quando não bebiam, deitava-se fora. Punha-se o sal e ao outro dia, ou depois, virava-se e punha-se do outro lado. Deixava-se aquilo numa tábua, que se chamava a queijeira, onde ficava a escorrer o soro. Lavava-se, pelo menos, dia sim, dia não em água morninha e secava-se com um pano. Ficava ali a secar, a curar. Era assim que se faziam os queijos.