“Eu e o meu irmão cozíamos o pão”

Numa gamela, amassava-se o pão. Tem-se a farinha. Tem uma coisa própria para peneirar a farinha, para passar só o que é bom. Peneira-se para ali. Depois põe-se o sal. Amassa-se com água quente, à maneira que nem fique dura, nem mole. Está ali umas horitas a repousar a massa, a levedar. Entretanto, o forno aquece. Tínhamos um forno só para nós, que os meus pais mandaram fazer, mas havia um forno comunitário, que era para todos. Põe-se a massa dentro de uma tigela e dá-se ali a volta. Chama-se tender. Quando o forno estiver quente e a massa estiver lêveda, põe-se a massa na pazita e depois no forno. No forno, nunca soube pôr, mas o meu irmão era miúdo e punha. Eu e ele cozíamos o pão.

Uma vez fizemos uma surpresa à minha mãe. Ela foi sair de manhã e disse assim:

- “Vais a casa da avó e trazes um pão.”

As pessoas aqui só coziam de semana a semana. Comia-se o pão a semana toda. Quando não havia, pediam uns aos outros. Nós íamos à minha avó e a minha avó, quando não tinha, vinha buscar a casa da minha mãe. Quando coziam, davam outra vez um pão aonde tinham ido pedir. Ela disse:

- “Olha, vais à casa da avó buscar uma broa. Amanhã, já vou cozer as broas, já lhe damos.”

Eu cozi o pão mais o meu irmão. Ele aqueceu o forno e eu preparei a massa. Quando a minha mãe chegou à noite, tínhamos o pão cozido. Nunca comi pão tão bom e nunca vi um pão tão jeitoso! Às vezes, os pães também não calham bem. Nós fazemos um bolo e nem sempre calha como nós queremos. O pão é a mesma coisa. Ficaram impecáveis! Quando a minha mãe chegou e viu o pão cozido:

- “Então, quem é que cozeu o pão?”

- Ó mãe, pense lá a ver quem é que cozeu!

Quando ela soube que fui eu e o meu irmão, chorou de contente, porque não esperava. Nós gostávamos de fazer surpresas. Éramos miúdos. Eu, se calhar, nem 10 anos tinha. Ai, não tinha, não! Para aí uns 8 ou 9, se tanto. E o meu irmão tinha menos dois anos que eu.