“Ajudavam-se uns aos outros”

Naquela altura, não havia muitas famílias lá no Torno, porque aquilo era um meio pequeno. Éramos nós, era a minha tia, a outra família, que era o tio César, e outra família, que era o senhor Francisco. Depois, ajudavam-se umas às outras. As pessoas eram mais prestáveis que agora. Agora sou eu e eu e eu. Quando for eu meia dúzia de vezes é que as outras pessoas são uma vez. Dantes, não era assim. Ajudavam-se uns aos outros. Nas colheitas, a debulhar o milho...

Debulhar era de noite. Se o milho era nosso, era na nossa casa. Tínhamos uma casa ao lado onde se faziam essas coisas. Havia pessoas que debulhavam o milho mesmo na casa onde viviam. Não era na rua, era em casa. No final, falavam, comiam e bebiam, quem queria. Era uma paródia. Aquilo acabava por ser uma paródia. Eu é que era uma marota. Dava-me o sono e adormecia. Debulhava pouco. Quando aparecia o milho-rei no meio dos outros, era uma festa! Mas era raro. Não sei já o que diziam. Normalmente, guardava-se de lado. Não se juntava com as outras. Como aquilo era raro, nem se semeava. Guardavam de relíquia.