Natal na aldeia e na cidade

No Natal, quando eu vivia cá, não sei se já se juntavam as famílias. Eu sei que já tinha prendas. Era mazita e ia trocar a minha pela do meu irmão. A comida era diferente. A minha mãe fazia sempre filhós e matava uma galinha ou um galo. Do resto, não me lembro. Depois de eu já ser crescida, em Lisboa, lembro-me que vínhamos cá passar o Natal. Tinha os meus avós, tinha a família e vínhamos passar com eles. Depois, íamos outra vez para Lisboa. Aí já eram as comidas como agora. Muitas vezes, fazíamos cozido à portuguesa e lombo assado. Eram os doces, as filhós, as rabanadas, os bolos, os pães-de-ló, o bolo de mel, o bolo disto, o bolo daquilo... Era assim o Natal. Era bonito. Eu gostava. Faziam a fogueira na rua, era uma paródia.

Em Lisboa, nos últimos anos, também juntávamos a família. Uma vez, era na minha casa, outra vez, era na casa das minhas primas. Estava sempre a família junta. Para mim, o importante era o estarmos juntos. Não era a questão da comida. O estarmos todos juntos era muito bom. Quando eu era assim miúda, a minha mãe morava na zona das Janelas Verdes. Logo ali há o mar. À meia-noite, os barcos apitavam todos. Eu, os meus pais, os meus primos, vizinhos e muitas pessoas íamos para um jardim, que era o Jardim da Rocha. Acho que ainda está lá. Íamos ali ver os barcos apitar. Era uma festa. A gente fazia a algazarra que queria. Depois, vínhamos para casa felizes e contentes. Como agora as pessoas vão à passagem de ano, a gente ia ali ao jardim ver os barcos. Íamos passar a meia-noite. Já era muito bom. Eu ia, porque me levavam. Sozinha, não. Depois, já casada, ia sempre. Também íamos à missa. Lá na minha paróquia, havia. Acho que em muitas paróquias, ou todas, celebravam a missa do Natal. Era muito bonito, porque as pessoas, como aquilo não era um meio muito grande, quase que se conheciam de vista. Conheciam-se todos uns aos outros. No final da missa, passávamos todos pela mesma porta e compravam uns quantos bolos-reis. Cada um passava e quem queria tirava uma fatiinha ou duas de bolo-rei. Era bonito aquele convívio. Não era pela fatia do bolo, era o convívio. Eu gostava bastante.