“Uma cozinha, três quartos e uma sala”

A minha casa no Torno ainda está lá. Tem uma cozinha, três quartos - um era meu, outro do meu irmão e outro dos meus pais - e uma sala. Na altura, não tínhamos casa de banho. Só depois a minha mãe mandou fazer uma. Tínhamos a lareira. Não tínhamos televisão, como agora. Na altura, quando eu era miúda, não havia. À noite, os nossos serões era estar ali um bocadinho a conversar. De caminho, íamos para a cama e era assim.

À volta, tinha terrenos, onde a minha mãe trabalhava, não só à beira da casa, como um bocadito mais distante. Agora está lá tudo abandonado. Há lá um terrenozinho mesmo junto à casa. A minha mãezinha todos os anos dizia assim:

- “Ah! Este ano é o último que eu amanho aqui este terreno.”

Mas semeava sempre batatas, feijão, alfaces, cebolas, pimentos... Só naquele terrenozinho à beira da casa. Dizia sempre que era o último ano. Só mesmo no ano passado ela já não semeou. Para que ela não ficasse triste, eu pedi ao meu marido para ir lá semear:

- Olha marido, vai lá...

A minha mãe, coitadinha, ainda ia lá e eu gostava que ela não visse aquilo abandonado. Então, ele ainda semeou, poucas coisas, mas semeou. Este ano, não. Já não semeámos nada, porque ela já lá não ia. Já não lhe dizia nada.