Uma régua com cinco furos

Naquela altura gostava pouco da escola, de início. Agora os miúdos vão para a escola já vão preparados. A gente ia para a escola não sabia nada. Depois vá, tareias, reguadas em cima.

Lembro da professora. Era uma senhora. Só na escola é que era má, fora da escola era boa. Quando ela batia, tinha lá uma régua que tinha cinco furos, dava uma reguada com aquilo até tremia. A professora batia muito, foge! Era com cada reguada nas mãos até ficavam encarnadas. Porque a gente não sabia. Ela queria que a gente aprendesse à força, a gente não sabíamos. Era porrada por cima do corpo.

Nem era canetas, nem era papel, a gente para escrever era numa pedra. Havia umas pedras antigamente que tinha um quadrozinho. A gente levava aquilo e com lápis de pedra é que escrevíamos, é que fazíamos lá as coisas. Depois é que para fazer as cópias e tal é que tínhamos uns cadernos para corrigir. Fazíamos as contas e ali é que fazíamos tudo.

Uma vez a professora pediu-me para levar uma cana. Aqui havia muitas canas assim altas e eu levei. Levei a cana que era para ela bater lá ao pessoal e o primeiro a levar com ela fui eu. Porque portei-me mal. Era cana dessas que há aí. Assim uma cana grossa. Arreava cada cacetada com aquilo.