Das prendas ao folar

O Natal era um dia quase como os outros. Com uma pequena diferença: sempre havia aquela ceiazita.

Comíamos a couve com batatas e bacalhau. Doces é que nunca fui amigo de doces. Prendas quando foi ao princípio, não havia. Quando estava solteiro nem recebia prendas nenhumas. Ao fim de casado, acho que uma vez a minha mulher me comprou umas cuecas.

Na Páscoa, no Domingo de Páscoa, vinha o padre. Primeiro, era a missa no Piódão, depois ao fim da missa é que vinha dar, diziam que era as boas-festas. Beijava-se a Cruz e dava a gente o folar. O folar era o que calhava. Às vezes era um cesto de ovos, outras vezes era outra coisa qualquer. Era para o padre. Também se dava o folar aos afilhados na Páscoa. O meu padrinho era António Antunes. Deu-me vários folares. Nessa altura era as broas. A broa de milho. Esse se a gente lá ia durante o dia muito bem, se não ia, quando era assim rente à noite ia a casa do meu pai chamar-me para lá ir buscar o folar. Tinha que lhe pedir a bênção e depois é que me dava duas broas. Era uma do padrinho e outra da madrinha. A madrinha era Gracinda.

Eu tenho, uma afilhada. É a Maria. Está em Arganil. Dava-lhe o que calhava. Até lhe comprei uns brincos. Uns brincos não, umas argolas. Quando calha ainda lá vou a Arganil e vou lá à casa dela.