“Aí passávamos uma tarde formidável”

Fiz a primeira em Arganil. Íamos a pé para a escola todos os dias. Não é como hoje que os pais têm que levar os filhos à escola. Não havia medo nenhum, não havia nada. Ainda andávamos um bocadinho. Íamos a pé. Depois saí da escola, tinha que optar ou por ficar em casa no estabelecimento a trabalhar e então ficava a trabalhar na parte da manhã.

Saí da escola, com 11 ou 12 anos, e fui aprender costura na parte da tarde. De manhã estávamos em casa a fazer o serviço da casa e na loja. Não havia máquinas de lavar roupa. Tínhamos que lavar, passar a ferro, tomar conta da loja. Éramos muitos filhos. Os meus pais não tinham grandes possibilidades mas viviam, mais ou menos, bem. Para não irem estudar, as raparigas foram aprender costura. Fazíamos o serviço da casa ainda pequenos e de tarde íamos aprender costura para casa de uma senhora onde éramos sempre à volta de 15, 16 raparigas. Aí passávamos uma tarde formidável. Ainda éramos pequenas, brincávamos, tínhamos meia hora, uma hora para o lanche. Nessa hora ainda queríamos brincadeira, ainda brincávamos se fosse possível. Na costura aprendi a costurar e aprendi a fazer renda. Andei até aos 18 anos talvez. Depois comecei-me a fartar. Eu julguei que já sabia fazer tudo, mas ainda faltava muito que aprender, fartei-me. Sabia que já sabia qualquer coisa e então depois desisti. Mas aprendi o suficiente para fazer sempre a minha roupa e a roupa da minha filha e ainda fiz a roupa dos meus sobrinhos. Fazia a minha roupa e alguma coisa de costura que fosse preciso fazer para casa. Fiz sempre a roupa para os meus sobrinhos, para os filhos dos meus irmãos mais velhos. As meninas, eu sempre é que as vesti. Até ir para África eu é que lhes fiz sempre a roupa.