“Eu nem a primeira cheguei a fazer”

Andei na escola ainda um tempito, mas não foi assim muito. Não. Eu nem a primeira cheguei a fazer. Escrevo o meu nome mas mal. Estive em Lisboa, depois lá é que eu comecei mais a aprofundar e a aprender com mais alguém.

A escola era na Benfeita. Isto agora está tudo reformado. Primeiro havia aqui uma classe e havia mais abaixo uma outra, para cima do centro, da igreja. Aquilo não era escola. Era uma casa com um salãozito e ali ensinavam as raparigas e na outra era os rapazes. Já não tenho ideia do professor! Já há tanto ano... Tenho 73 anos, já não me recorda bem. Naquele tempo era com uma régua que os professores batiam. Aquilo custava. Por qualquer coisa, pumba, já está! Uma reguada. Por qualquer coisa! Se calhar agora essa coisa ainda havia de vir porque há muita liberdade, há muita coisa, fazem pouco dos professores, tratam-nos mal. Quem sabe se não seria preciso essa reprimenda.

Naquele tempo tínhamos aí uns 8,9 anos. Depois íamos para casa e ainda tínhamos que trabalhar. Em vez de estudarmos alguma coisa ainda tínhamos que ir para o campo ajudar qualquer coisa. Era um tempo ruim, de miséria! Eu trabalhava mas os outros também e mais! Trabalho de ajudar aos animais, ao gado, uma coisa e outra. Às vezes, fazia os trabalhos de casa, com um candeeirito que tinha a luz suspensa, chamavam àquilo um pitoso. A gente punha-se ao pé do candeeiro e ia o fumo do candeeiro, até intoxicava a gente. O lume estava solto, a luz estava solta, o fumo umas vezes ia para cima, outras vezes embrulhava a gente. Eram tempos ruins! Esse tempo que não lembra a gente mais.