“União Progressiva de Chãs d'Égua”

Estas povoações não tinham estrada, não tinham água canalizada, não tinham esgotos, não tinham telefone, não tinham luz... Nada disso. Através da Comissão de Melhoramentos, quer pelas quotas, quer pelo poder que tinham, quer pela pressão que faziam junto das entidades oficiais, o telefone veio para cá. Antigamente, uma povoação destas ter um telefone era um luxo. Ter aqui luz eléctrica? Ui, isso era outro luxo! Ter água canalizada? Nem pensar nisso! Estas coisas todas foram conseguidas através da Comissão de Melhoramentos e da pressão que ela fazia sobre as entidades oficiais. A Comissão até era muito bem aceite. Havia um grupo de Lisboa e havia o grupo daqui. Era a direcção local e a direcção dos que emigraram. Havia uma união e as pessoas aqui eram muito bairristas. Sempre foram.

Eu quase assisti à fundação da União Progressiva de Chãs d'Égua. Foi fundada há mais de 50 anos. Nos anos 40. Mais ou menos no final da guerra de 1939-1945. 1948, princípios de 1950. Eu era miúdo. Se tivesse 7 anos, tinha muito. O meu pai era sócio fundador. As assembleias eram feitas nas escadinhas de das Janelas Verdes. Quando acabava a Rua do Olival, havia umas escadinhas que davam para a Rua das Janelas Verdes. Era nessas escadinhas que as pessoas se reuniam. Não havia sala, não havia nada. Reuniam-se a medo. Um tinha que estar em baixo, no princípio das escadinhas, outro, cá em cima, a avisar se vinha um chui:

- “Vê lá bem! Vê lá se vem a polícia!”

Estavam ali a avisar:

- “Ui! Que vêm aí!”

Então, aquela gente parecia formigas a fugir.

Surgiu, porque, nesta altura, as terras não tinham estas acessibilidades. Não tinham telefones, luzes, água, médico... Não tinham nada. Nasceu, pela necessidade de se pôr aqui o telefone, a luz, de vir cá o carteiro, o médico, que não vinham. Mas uma pessoa só não conseguia. Tinha que ser um conjunto de pessoas. Então esta gente formou um movimento associativo para se fazer pressão junto das entidades, quer locais, quer regionais, quer da Administração colocada em Lisboa. Só com estes núcleos se conseguia pressionar o poder. Por outro lado, essas entidades também precisavam de, localmente, ter alguém quando houvesse algo. O Almirante Américo Tomás, Presidente da República, chegou a estar lá em cima uma vez e foi recebido por uma delegação da Comissão de Melhoramentos.

Hoje, quase todas as casas têm aquecimento. Têm todos os confortos. Isto, em dez anos, deu um grande salto de criar condições. As pessoas vêem uma pessoa melhorar e também querem, o que é positivo. Querem tentar fazer melhor.