“As casas eram geladíssimas”

A casa dos meus avós tinha dois andares. O meu pai também fez aqui uma casa. Era mais ou menos a mesma semelhança. Tinha a lareira e a cozinha, que era a casa de jantar. Como tinham a lareira praticamente acesa quase todo o dia, menos no Verão, as paredes já não era madeira. Era preta do fumo. Tinha dois quartos, mas sem janela. Dois quartos interiores. É a ideia que eu tenho da casa do meu avô. Na cozinha, por cima, é o caniço onde eles punham as castanhas a pilar. Tinha um outro pau atravessado onde penduravam as chouriças para fazerem o fumeiro sobre a lareira. Tinha uma corrente com um gancho, onde punham uma panela com água com os restos da comida, para fazer o comer para o porco. A lavagem dos pratos ia toda para ali. Depois, juntavam mais qualquer coisa. Fazia parte da ração do porco. À volta, tinha um género de um banco e as pessoas sentavam-se. Isto era muito frio. As casas eram geladíssimas. Faziam o lume e tinham que arranjar o aconchego naquela situação mais branda. Recordo-me de a minha avó ter a cantareira à entrada. A gente subia a escada para o andar de cima e logo na entrada tinha um cântaro enormíssimo. Parecia uma garrafeira. A gente inclinava o cântaro e tirava a água para beber e para tudo. As pessoas, para fazer as necessidades, tinham lá um buraco numa poça. Como tomavam banho, não me recordo. Não tenho ideia nenhuma. Sei que eu ia tomar lá à poça. Agora, aqui, não faço ideia de como era. Os hábitos de higiene também eram um bocadinho mais limitados.