“A fazer fogo”

Também trabalhei nas estradas. Trabalhei nesta estrada desde Vide que são mais ou menos 11 quilómetros. Também o meu trabalho foi só a fazer fogo. A rebentar com a rocha “pia fora”. Quer dizer eram mais dois rapazes. Eu abria os buracos com o compressor e o outro rapaz andava a arredar o cascalho para trás, onde é que se havia de meter. E o outro conforme nós vínhamos vindo ela vinha carregando o fogo. Tendo o fogo feito rebentavam. Porque se não fosse o fogo, as máquinas não andavam nada. Eles estavam a dormir dentro das máquinas aos dois e aos três. À espera que a gente rebentasse com o fogo porque a máquina se teimasse partia peças.

Mesmo assim ainda demorou três anos de Vide aqui. Mas houve aí partes que foi muito ruim de fazer. Porque eles quando vieram ver enganaram-se. Vieram a voar por um helicóptero, a ver, e eles cuidavam que isto que dava em terra e que as máquinas que brincavam. Mas depois aquilo deu com rochedo e as máquinas já não andavam nada. Ajustaram aquilo na altura por 70 mil contos. Eles hoje nem um quilómetro faziam, se calhar, por esse dinheiro. Ou que fizessem dois por esse dinheiro.

Para rebentar com as pedras púnhamos a arder umas velas redondas de dinamite. A gente metia aí dez, aquilo aprofundava, quando rebentava, ficava o terreno a quase tudo limpo. E ia cada bocado de peneda para seu lado.

Também andei na estrada desde a Lomba até ao povo. Andou lá até um tipo que era chamado Lopes Simões, que era do Rochel. Tinha o escritório em Arganil, na Barreira. Depois andei lá ainda um tempo a ajudar. A fazer também lá fogo. E andou lá uma máquina. E lá a trouxéramos aqui ao povo.