A armadilha

Aqueles dois anos em Luanda... Ui, aquilo foi ... ainda lá morreram uns 18 dos que foram comigo e 16 ficaram inutilizados para a vida deles. Eles venciam mais a gente, era com as armadilhas na estrada. Morreu um Furriel e o chofer e nós andáramos aí 20 ou 30 metros pelo ar e caíramos no chão. O sangue ficou paralisado com o estrondo, já não nos mexêramos mais. Ao depois apanharam-nos para os outros dois carros. Os outros dois carros a subir já não aguentavam com tudo, já tinham que vir a pé para o quartel. O último a saltar do carro para baixo já não teve tempo de saltar! Apanhou uma rajada de tiros no peito, ficou cortado a eito, logo deitado de cima do carro. E então, quando assim era uma coisa daquelas, o que podia saltar mais depressa não, saltava mais devagar. E eu fiquei atrás do carro metido entre o meio dos pneus, e dali ainda fiz fogo e os outros também fizeram fogo. Daí por um bocado lá se calaram, lá nos viéramos embora. Viéramos embora sem nada e não chegáramos a ir ao pé dos outros que vinha ao nosso encontro.