“Quando me disseram que podia voltar a Portugal, isso é que foi uma alegria”

Depois de sair da escola e andar a pastar cabras, andava a serrar com o meu pai. E ele teve que arranjar outro companheiro para o pé dele e eu tive que ir... assentei praça em Espinho e depois de Espinho passei para o Porto, para Vila Nova de Gaia, para a Serra do Pilar. Da Serra do Pilar fui a caminho de Angola. Em Angola estive aí uns três meses a fazer serviço à cidade de Luanda. Estávamos acampados num acampamento e daí partíramos para o Norte. Eram três dias de carro. Depois estivéramos então no Norte aí uns 28 meses e depois regressáramos outra vez a Portugal.

Fôramos 12 dias e 12 noites no Niassa para lá. O Niassa gastou um ror de tempo. Depois o Pátria foi atrás dele um dia e uma noite. Chegou a Angola aquando a gente. E depois foi o Vera Cruz buscar a gente gastou só nove dias e nove noites porque já vinha leve, só com a tropa. O Niassa quando foi para lá levava 90 carros e 3000 soldados. Ia muito carregado, andava pouco. O Vera Cruz era um dos mais importantes. E o Santa Maria também. E depois a seguir era o Pátria. A nossa Marinha chegou a ser a segunda Marinha melhor do mundo.

Para a tropa para Espinho fui em 61. E depois para a Angola fui o dia 12 de Janeiro de 62. Chegáramos no dia 24 de Janeiro. E depois vim de Angola o dia 1 de Abril de 1964. Chegáramos a Lisboa às nove horas da manhã.

Na tropa nunca cheguei a receber 50 escudos. Recebi 48 escudos. Foi o mais que recebi. Agora lá fora ganhava um conto e 200 por mês. Que era o que davam a cada soldado. Ninguém me perguntou se queria ir. Naquela altura eram obrigados a ir todos. Ali não podia ficar ninguém para trás. Havia dois gajos que já lá iam duas vezes ao pé do barco e vinham lá ter ao quartel ao Porto. Ao depois quando eu fui já foram presos lá no barco até lá fora. Já não voltaram mais para trás.