“Uma pessoa para o campo já não leva comida”

Geralmente as pessoas trabalhavam no campo. Por exemplo, se eu tinha fazendas e não podia ir para o campo, falava a uma pessoa de fora e essa pessoa ia-me fazer o serviço. Aquelas pessoas com mais posses tinham caseiro, ou tinham essas pessoas a quem falavam. Elas iam-lhe semear as batatas ou o milho. Quem queria falava ao pessoal, pagava.

À tarde iam levar a merenda ao pessoal que era muito engraçado também. Traziam as mulheres a trabalhar no campo e então depois de Verão à tarde iam levar a merenda onde faziam, não eram os coscoréis, chamam-se filhoses, são assim aquelas mais pequenas, aquelas redondinhas. Levavam filhoses, levavam queijo, levavam sardinha frita e depois as pessoas a umas tantas horas, cinco horas, seis horas deixavam de trabalhar. Tudo se sentava de volta da mesa ou no chão estendiam uma toalha. Conforme as pessoas que andassem a trabalhar ia a merenda para as pessoas comerem. Para os homens era vinho, para as mulheres era café ou chá e vários condutos, o que as pessoas podiam fazer. Tudo do bom e do melhor. Então as pessoas estavam ali meia hora, três quartos de horas sentadas a comer. Acabavam de comer, iam, pegavam outra vez ao serviço até à noite até enquanto houvesse sol, continuavam a cavar a terra. Também era muito engraçado isso, que hoje já não se faz. Uma pessoa para o campo já não leva comida. Hoje já pouca gente cultiva porque praticamente já é tudo de uma certa idade. Cada um hoje cultiva um bocadinho para si. Umas batatinhas, umas cebolas, umas coisas, porque também já não podem.