Carregos de pedra e barro

Depois da escola vim trabalhar. O meu pai tirou-me para eu vir trabalhar à serventia, a acartar pedra. Trazia a pedra à cabeça. Por isso é que eu hoje sofro muito da coluna. Dos carregos de quando era mais nova. A maior trazia-a à cabeça e aquela que era mais miúda púnhamos numa cesta e púnhamos a cesta à cabeça. A subir e a descer durante um quarto de hora mais ou menos, com o carrego à cabeça. Mas era sempre, chegava a gente uma vez e abalava logo. Era o dia todo naquilo. Para trás e para diante, a acartar. O barro era na parte de cima da estrada. É que a gente ia buscar o barro.

A seguir fui trabalhar na agricultura. Ajudar a cavar a terra. A semear milho. Até a ajudar na Foz d'Égua, e no Torno. Os homens cavavam a terra e a gente ia semear o milho por trás. A gente ia fazer dois dias para ao fim o homem me ir ajudar um dia. Era troca por troca. Nunca ganhei um tostão na minha vida. Eu também precisava que viessem cavar a nossa terra, então nós íamos ajudar a semear o milho. Ia ajudar quando era a cavar as terras porque não havia tractores. Os tractores eram a enxada, eram os braços. Era tudo transportado às costas e à cabeça. Sacas de milho, estrume, mato, tudo. Tanto molho de mato que eu fui buscar!