Com um xailezito pela cabeça

Eu devia ter uns 7 anos quando entrei para a escola, nos Chãs d'Égua. Era na parte de cima onde agora estão as gravuras rupestres. Quando passou a estrada escangalharam a escola e fizeram da parte de baixo. Eu ainda andei na de cima. Andei até à quarta. A minha professora batia-me muito. Era da Aldeia das Dez. Era boa, para ensinar era boa, mas batia muito com uma régua. A gente nunca chegava às horas, punha-se na brincadeira uns com os outros e ela batia. Eu era novinha mas antes de ir para a escola, ainda tinha de ir ao mato primeiro. A escola abria às nove. E a gente chegava atrasada, já abalava atrasada de casa. Levantava-me cedo para ir ao mato, chegava a casa, comia alguma coisa e ainda ia aquele bocado grande a pé lá de baixo para ir lá para cima. Então já chegava atrasada e a professora batia-nos. Às vezes também não tinha culpa. Mas bem tudo se passou. Para o almoço levava batatas fritas, às vezes com ovos, salsichas, uma coisa qualquer, ou arroz, massa. Tinha de ser. Queijo, também tínhamos muita fartura de queijo. Era o que havia.

Quando estava a chover íamos na mesma à escola. Chegávamos todas molhadinhas, com um xailezito pela cabeça. Um xailezinho com umas franjas em volta. Mais o saquito dos livros e o saquito do comer. E lá íamos nós. A escola não tinha lareira, não tinha nada. Estávamos todo o dia molhadinhas até à noite. Só chegávamos a casa à noitinha. E quando voltávamos da escola ainda tinhamos de ajudar. Às vezes vínhamos mais cedo e ainda tínhamos que ajudar a guardar o gado na quinta. E tratar delas à noite. Era muita terra e só tínhamos o pessoal de casa. Estudar alguma coisa tinha de ser só de noite. À luz do candeeiro que não havia ainda electricidade.