“Os nossos queijos valiam um dinheirão”

O padroeiro de Chãs d'Égua é São João Baptista. A festa é em Agosto. Antigamente era mais ou menos como é hoje. É a missa. No fim da missa é a procissão, em que saem os santos todos e levam a música. No fim é o almoço. À tarde primeiro há um leilão de ofertas, e no fim há bailes, há ranchos, conjuntos. Isso tudo. Há bailes até às tantas da manhã. As ruas eram todas enfeitadinhas com flores, pelas portas. Era bonito.

Nesse dia come-se a chanfana feita no forno. A gente temperava numas caçoilas, isto para quem quiser fazer um comer saboroso é em barro. Umas caçoilas de barro, faz os tempêros, louro, serpão, alho, cebola, colorau, vinho branco. Há quem ponha tinto, mas eu uso sempre na chanfana vinho branco. Gosto mais. Fica que é uma maravilha. E fica melhor que nos outros tachos. Fazia-se também a galinha, frango, arroz-doce. Era sempre muito arroz-doce que a minha avó fazia. Às vezes, fazíamos aos 5 quilos de arroz-doce. Eu ia à Vide buscar 5 quilos de arroz e acabava-se por estragar. Naquele tempo não havia frigoríficos não havia nada. E tigelada, também, bolos no forno.

A tigelada é com leite, ovos e açúcar e quem quiser pôr um bocadinho de canela fica mais saborosa. Ainda hoje faço na mesma. A gente fazia no forno enquanto cozia a broa. Fazia filhoses. As filhoses é farinha triga, ovos, açúcar, um bocadinho de fermento, um bocadinho de aguardente, um bocadinho de azeite e um bocadinho de sal. Para as filhoses da cozinha. E do forno é mais ou menos a mesma dose. Mas eu adoro fazer filhoses. Faço-as fritas. Primeiro faço a massa, ponho um bocadinho de fermento para levedar. Vendo que elas estão boas para fazer, eu faço assim: ponho um bocadinho de óleo numa tacinha, esfrego um bocadinho na mão que é para a massa não agarrar. E esfrego até ficar bem redondinha, ponho-as na mão, espicho-as bem espichadinhas, estico-as bem esticadinhas, ponho-as na frigideira ficam altas muito boas, crescem ali que é uma maravilha. Ficam muito boas.

No leilão eu quero oferecer uma garrafa de aguardente, outro quer oferecer uma garrafa de vinho, outro quer oferecer um queijo, outro quer oferecer um chouriço. E daí botam a lanço. Agora eu ofereço cinco, outro oferece dez, outro oferece 15, e andam sempre “pia cima”. Isso é que chamam as ofertas para fazer dinheiro para a Comissão. Mas faziam aos 300, e aos 400 e aos 500 contos assim nisto. Dava muita oferta. Nós dávamos mais era queijo. Como tínhamos muitos. Então os nossos queijos tinham uma fama. Os nossos queijos aquilo iam para um dinheirão enorme. Chegava a valer mais de dez contos. E, naquela altura, dez contos era muito dinheiro. Todas as pessoas os queriam. Era aumentar o dinheiro para cima.