“Casei-me na capela do meu bairro”

Eu nasci, criei-me, baptizei-me, casei-me tudo em Arganil. Casámos por procuração. Eu fiz o casamento, os meus pais fizeram a boda tal e qual como se ele estivesse. Só saí de Arganil para ir para África. Casei-me e fui lá ter.

Como eu não tinha noivo, foi o meu cunhado que foi o meu padrinho. Fui a Coimbra com uma cunhada minha e comprei o tecido para o vestido. Era cor-de-rosa, seda natural. Estou a ver o vestido ainda porque, eu acho até que ainda o trago aí numa mala. Foi feito pela modista onde eu andei a prender a costura. Foi tudo feito lá. Então o vestido era de cava, era de corte rente ao pescoço. Tinha um fecho atrás. Tinha estes cortes que se usam hoje e era inteiriço. Tinha então um casaco comprido branco por cima do vestido. Na frente no cabelo não levava nada. Levava um laçarote com um raminho de flores atrás. Luvas brancas e o raminho na mão. Foi assim o meu vestido. Fui para a capela do meu bairro. Casei-me lá. Ao fim da cerimónia foi o almoço feito em casa dos meus pais. Éramos 70 e tal pessoas talvez.

Teve sopa. Nesse tempo eram três ou quatro pratos, cozido, cabrito assado, outro prato. Muitos doces, muitos bolos que eram como antigamente se faziam os casamentos. Caseiros e tudo comidinha caseira. Não se ia para os restaurantes. Era em casa que se confeccionava tudo.