“Sou casado há 53 anos”

Sou casado há 53 anos. Lembro-me do casamento. Na altura, a noiva ia de branco e o rapaz ia de fato preto. Para mim isso era
mau. Com uma gravata branqueada e depois lá íamos. Achava aquilo triste, mas naquele tempo usava-se. Eu também fui de preto. Fato preto.

Íamos casar longe! Eu fui à freguesia da minha mulher, chamam o Mosteiro de Folques. Depois tínhamos que ir quase duas horas a pé pia baixo uns atrás dos outros, em jejum, para comungar depois lá. Ia uma pessoa com comida para no fim do casamento a gente comer alguma coisa. Toca a andar por aí acima para casa. Até para arranjar uma rapariga a gente via-se à rasca!

A festa foi na terra da minha mulher e havia convidados. Nesses tempos convidavam mas pouco davam, coitados, também não tinham que dar. Pessoas amigas, famílias e era assim que eram os casamentos naquele tempo. O hábito lá e em qualquer lado era comer carne assada. A comida não era má porque a carne assada naquele tempo, a bem dizer era só de ano a ano. Agora come-se carne assada se for preciso todas as semanas. Isto virou. Carne assada e chamavam o arroz de fressura, também era isso que se comia, e bom, aquilo era bom! Ainda hoje é bom sabendo-o arranjar. E eram assim uns doces, tigeladas, arroz-doce, bolos de toda a qualidade, já faziam isso. Nem que ao outro dia ficassem todos empenhados! Eram os pais dos noivos que pagavam e depois dividiam a conta pelos pais dela e dele.

Fiquei a viver dois anos na terra da minha mulher: Monte Redondo, Folques. E depois ao fim de dois anos mudámo-nos para aqui para o Pai das Donas. Não tivéramos filhos.