“Ou a gente aprendia ou ficava doido”

Por exemplo, na escola do Piódão, chegáramos muita vez mais tarde. E em Chãs d'Égua também. Se a gente fosse só que passasse um minuto ou dois das nove horas, era logo com a régua nas mãos. Até botava fagulhas! Uma vez chegáramos lá meia hora mais tarde. Foram 20 reguadas! É verdade, nunca me esquece. A essa professora ainda há pouco lhe fizéramos uma casa no Piódão, na curva logo adiante da Casa da Padaria. Uma casa com umas portas azuis, que tem assim uma varandozinha, essa fomos nós que fizemos. E a professora é dona dessa casa. Acho que é Goretti. Pronto, estávamos muitos dos Moinhos na escola do Piódão. Íamos na brincadeira e nem tínhamos relógios como agora. Lembrávamo-nos lá nós da escola. Então, íamos à toa “pia cima”. Depois, quando lá chegávamos, punha-se ela assim:

- “São horas!? Então andai cá!”

E a gente lá ia. Púnhamo-nos todos em fila: “tufa”! Cada minuto era duas ou três reguadas. Olá! Então a gente, muito caladinhos, íamos para dentro com as mãos a formigar. Lá estávamos muito sossegadinhos. Ela era terrível! Aquilo, poça! Ou a gente aprendia ou ficava doido! Mas tínhamos que aprender. E então, se a gente se portasse mal, era logo a régua. “Pum”, para os alunos! Mas aquilo era lixada! Depois mandou-nos levar uma cana, que era para assinar no quadro. Lá nos começava a mandar ir ao quadro. Mas estávamos nervosos, começávamos a escrevinhar. Quando a gente, às vezes, dava um erro, ela “pumba”, logo com a cana por a cabeça abaixo! E “pumba” com a cana por cima, na lateral. Aqui, no Chãs d'Égua, também ainda andei muito tempo. E a professora também era lixada para bater. Ou aprendíamos ou levávamos tareia! E assim lá íamos. Éramos terríveis! Agora diz a malta que os professores não podem bater nada nos alunos. Deram eles fazerem como no nosso tempo. Iam lá um dia, não voltavam lá mais!