No Natal

O Natal era praticamente como agora. Convivem as famílias uns com os outros, coze-se o bacalhau com as couves à noite, fazem-se uns bolos e passamos aí um bocado da noite até à meia-noite. Ouve-se botar os foguetes e depois é que a gente se vai deitar. Ao outro dia, então, juntemo-nos outra vez. Às vezes, come-se chanfana ou fazemos cabrito no forno.

Pouco me lembra antigamente. Mas não era como agora. O bacalhau havia sempre. Só que não havia dinheiro para se comprar as coisas. Às vezes, ao outro dia, era uma galinha que se arranjava e já não era mau. Era tempos pobres. Prendas? Ó, ó! Que é delas!? Às vezes, diziam-me os meus pais:

- “Ó pá, põe o sapatinho na chaminé que é para te vir o Menino Jesus pôr lá a coisa!”

Então, o meu avô punha lá uma nota! Às vezes uma moedazita ou um carrito, quando ele ia a Lisboa. Outras vezes uma flauta. E aquilo já era uma prenda que... Jesus! Era assim.