“Luzia o frio por todos os lados”

Tenho muito poucas recordações da minha casa na Mourísia. Sei que era uma casa pequenina. Diz a minha mãe que aquilo era uma casa pequenina e que estava lá frio. O dia que eu nasci até estava um nevão grande! Mas estava um nevão enorme. Diz que veio um médico lá de Côja tirar-me, senão que morria eu e a minha mãe. Dizem eles que se lembram de me porem uma mantazinha logo por cima e levaram-me logo para o pé da lareira. Mas depois o médico conseguiu salvar-nos os dois. Se eu tenho morrido, até era uma fortuna! Já não andava aqui a chatear as pessoas!

Tenho uma prima minha - uma que está em Sintra - que também lá nasceu. Ainda lá fomos há dois anos. Diz ela:

- “Ó Zé, lembras-te ali naquela casa?”

Agora já reconstruíram. Mas aquilo era uma casa pequenininha. Luzia o frio por todos os lados. Não era casas rebocadas como agora há. Não era assim de reboco. Era pedra por fora e por dentro. E depois aquilo levava barro no meio das paredes, que era para isolar o frio. E era assim que a gente ali vivia. Antigamente era assim a miséria.