“Eu era maluca por dançar”

Fui à escola, mas não aprendi nada. Era burra, não aprendi nada. Não tinha bem a memória. Tinha alguns amigos. Brincávamos, às vezes, à roda e dançávamos com as mãos agarradas uns aos outros. Era só assim. Era pequenininha, não me lembro.

Tínhamos ovelhas e tínhamos cabras. Íamos ao mato e à lenha e levávamo-los com a gente. Nós roçávamos uns molhitos de mato e apanhávamos uns molhinhos de lenha. Trazíamos os molhos com o gado. Vinham para a lojazinha. E daí, íamos buscar a lenha à parte.

À noite, estava a gente, às vezes, a debulhar feijão e a conversarmos uns com os outros. Era assim. A falarmos destas coisas dos bailes. O meu pai sabia tocar uma viola. Tocava muito à cozinha e cantava muito bem.

Lá na minha terra, íamos para os bailes. O meu pai ia com aquela guitarrinha. Eu era maluca por dançar. Dançava muito. Era assim a gente agarrados uns aos outros a dançar. Acabava o que estava a tocar, paravam um bocadinho e depois tornava a começar e tornavam-se a agarrar uns aos outros. Cantava muito bem ao fado. Agora, já sou velha, já não me lembro assim muito. Era uma alegria. Ele, daí, coitadinho, foi para aqui para ao pé de nós. Tocava e cantava muito aqui, também. Enquanto ele foi vivo foi uma alegria para mim.

Ainda era amiguinho de me dar dinheiro para eu ir ao outro lado buscar pão e mercearia. Morreu, acabou tudo.