“Há tanto tempo que lá não vou à missinha”

Fui à catequese ao Piódão. Eu gastava uma hora e tal daqui para lá. Já morreram as pessoas que nos ensinavam a doutrina. O senhor padre António, que andava a estudar para padre naquela altura, ainda me lá ensinou algumas vezes. Mas havia também um padre que estava na Moura. Esse ainda me lá bateu muita vez com uma vara! Ensinavam como as professoras. A gente também tinha que estar ali com ele a fazer perguntas e tudo. Estava lá um que andava estudar também para padre, mas ao fim foi para doutor ou que foi. Esse é que era mesmo velhaco! Nós, às vezes, não estávamos quietos, a gente ria-se e ele malhava logo para aquecer. Dava com uma vara: “zumba”! Aprendíamos muitas coisas. Fiz a Primeira Comunhão e era, ao fim, a Comunhão Solene, a Terceira também e tudo aquilo. Já não tomo sentido como é que era. No dia da Comunhão as roupas eram pouco boas, mas lá tínhamos que ir.

Também íamos à missa ao Piódão. E eu agora quero ver se lá vou ao domingo. Tenho um rapaz, a ver se me lá leva de carro. Já há tanto tempo que lá não vou à missinha. Quando estive a tratar-me em Seia, até me iam levar à missa de cadeira de rodas. Tratavam-me muita bem lá. Diziam as senhoras enfermeirinhas:

- “Ó senhor Artur, você gosta de ir à missinha?”

- Gosto, sim senhora!

Então, iam-me levar numa cadeira de rodas. Ao fim, quando lá estive na hora da minha vaga, lá ia eu sozinho. Mas o enfermeiro dizia:

- “Pode ir à vontade, ó senhor Artur! Mas ao fim, à noite, quero-o cá no quarto.”