“O meu pai nunca nos puxava para ir para a escola”

Ainda fui andar na escola. Era lá em cima no Chãs d'Égua, mas agora já fizeram umas casas por fora. Não sei para que é, mas diz que é a casa das gravuras. Antigamente as professoras ensinavam-nos com uma vara. Batiam-nos! Quando nos levavam ao quadro para escrever e a gente não sabia, ui... Às vezes, batia-nos muito! Ao fim, a gente saía logo cá para fora, fugíamos. Mas ao outro dia é que ela dava porrada. “Pumba” para baixo! A gente não queria aprender e daí toca: com uma régua nas mãos, “trás”! Nessa altura, ainda havia muita gente assim miúda. Às vezes brincávamos uns com os outros, as raparigas e tudo. Mas agora já não me lembro de nada. Estou mesmo esquecido das coisas de antigamente.

Ao fim saí, porque o meu pai nunca nos puxava para ir para a escola. Quem dava presentes à professora, ela ainda levava a estudar. Mas o meu pai nunca deu lhe nada... Olha, pôs-nos a roçar mato e saí, pronto. Só o meu irmão que está em Côja, esse é que ainda aprendeu a ler. Foi andar na tropa lá fora e tudo e ainda abriu os olhos. Agora os outros não. Ficámos para trás. Primeiro ainda fazia o meu nome. Agora é que já não sei fazer, porque deu-me em falhar a vista e já treme muito as mãos. Mas a minha assinatura está no Bilhete de Identidade. Ficava uma boa riscadela, mas ainda me ajeitava. Está lá tudo perfeito. Se fosse agora, já não podia ser.