“Vai tudo de heranças”

O meu pai chamava-se Zé Luís Castanheira e a minha mãe Maria das Trindades. A minha mãezinha, que Deus tem, trabalhava na fazenda. Coitadinha, andava sempre no campo por fora. Cultivava milho, batatas, assim as novidades todas. Também tinha umas cabritas e andava a guardar o gadito. O meu pai trabalhava de ferreiro. Aprendeu com o meu avô que também já era ferreiro. E eu, ao fim, aprendi com o meu pai. Também me ensinou a mim quando eu era pequenito. Isto já vai tudo de heranças. Tinha uma oficina, logo ali de cima dos Moinhos, e estava sempre ali metido. Pouco saía de lá para fora, só assim pela tarde. Aí é que trabalhava a fazer e a arranjar podões e ia levar para a Gramaça e por aquelas serras. Não havia nada que a gente não corresse para um lado e para o outro. Noutro tempo, não havia donde se ganhasse, tinha que se aproveitar tudo.

Já morreram os dois, coitadinhos. A minha mãe já aos anos. Ao fim nasceu-lhe uma nascida ruim num peito, foi a doença dela.