“Cultivava terrenos aí dos outros”

Nunca fui para fora trabalhar. Não. Fiquei sempre em Chãs d'Égua. Cultivava terrenos dos outros para modo de criar os meus filhos. Sabe Deus como se a gente via no outro tempo. Eu não tinha abonos dos filhos, não tinha nada.

Havia aí muito quem desse terra a tratar. Não pagavam nada. Ainda tinha que a gente dar alguma coisa do cultivo a eles. Tínhamos que dar qualquer coisa. O azeite apanhávamos, mas dávamos um tanto aos donos das oliveiras. A gente, por exemplo em 5 litros, dava 1 litro dele. Dávamos um tanto ao dono. Agora até já dão de graça. Ninguém apanha a azeitona. Não dá para apanhar. Eu por mim não posso. O meu filho é que tem apanhado. Era um ano para ele, outro ano para mim, o azeite. Este ano é o ano que é para mim, mas eu não posso apanhá-lo. Ele já disse para os cunhados:

- “Olha se quiseres vir ajudar a apanhar, tendes azeite...”

Eu por mim também não posso.