“Já tenho pensado muita vez como é que os do outro tempo viviam”

Naquele tempo não havia fogões. Não havia nada. Já tenho pensado muita vez como é que os do outro tempo viviam. Não tinham fogão, não tinham frigorífico, não tinham nada. Eu hoje graças a Deus já tenho um bocadinho de tudo. Já tenho fogão, já tenho um frigorífico, até tenho também uma arca frigorífica. Já a gente vive de outra maneira que se não vivia naquele tempo.

No outro tempo não havia casas de banho, não havia nada. Íamos para as leiras. Mas não era só em minha casa. Eram todos. Era toda a gente. Não havia nada.

Quando tínhamos que ir buscar a água, íamos lá adiante ao barroco que passa por baixo. Uma vez, vinha com um cântaro de água à cabeça, cheguei ali à porta e parti o cântaro. Fiquei sem água e sem cântaro. Não havia águas, não havia canalizações de água, não havia luz, não havia nada.

Era tudo ao lume que se fazia o comer. Tinham um caldeirão pendurado para cima. Uma panela em cima do lume e havia uma coisa para porem um tacho. Penduravam- se umas panelas em cima do lume, outras em volta do lume e assim se fazia o comer. Não era como agora. Vivia-se mal naquele tempo. Agora é outra coisa.

O Inverno era passado na cozinha, à fogueira com a lenha. As noites eram maiores, mas a gente ia para a cama. Depois sempre se aquecia na cama, tinha mais roupa. Nos Invernos, às vezes, chovia muito. No outro tempo, nevava. Uma vez até chegou lá em baixo, para cima da Vide. Não havia estrada, não havia nada. Havia lá uma calçada, chamávamos nós a Calçada do Cacilheira. Com a neve, a gente a descer a calçada tinha que ser com um pauzito. A gente encostados com o pau. Às vezes, caía aí muita. Era tão bonita. Mas agora já vai uns anos que não neva cá.