“A barragem apanhou os moinhos”

Não há festas de colheitas nenhumas. Em Agosto é que aqui há festas. É em Agosto e pela Páscoa. Só para debulharem o milho, às vezes, é que se chamavam uns aos outros. Eu ia ajudar uma senhora, outro dia a senhora ia ajudar-me a mim a debulhar o milho. Malhava-se com uma “escalca”. Era uns a malharem e outros a “descasularem”, a tirar o milho que ficava nos casulos.

Havia moinhos lá perto. Os moinhos eram da terra. Eram de lá da gente. Havia mais do que um moinho e depois ia moer. Havia três moinhos no rio. Cada um ia moer ao seu. Por exemplo, nós tínhamos um moinho era de quatro ou cinco herdeiros. Os outros também. Depois é que andavam aos dias. A gente ia moer no dia que era nosso.

No Inverno era lá os moinhos ao pé de casa, perto de casa, e depois de Verão era no rio Ceira, que a gente ia moer o outro milho que ficava da outra parte. Depois fizeram a barragem, arrancaram os moinhos. A barragem apanhou os moinhos que eram de Verão. Só deixaram um moinho em baixo, mas eu aí já lá não fui que quando me casei foi quando taparam a barragem.

O milho era moído no moinho e depois a farinha era cozida no forno e então é que era o pão para a gente comer. Cultivava-se o centeio por aí... Cultivava-se, fazia-se cavadas e havia muito centeio. Depois misturava-se centeio na broa. Era muito boa. Era melhor que agora. O centeio na broa, na farinha do milho tornava mais macia a broa. A farinha, amassavam-na, tendiam-na numas tigelas e depois botavam ao forno. Era do que se vivia. E com a broa viviam mais tempo que vivem os de agora.