“Com a trouxa às costas”

A primeira vez que eu saí de casa para ir trabalhar para fora tinha 14 ou 15 anos Fui para as Minas da Panasqueira. Eu saía lá de baixo, da Foz d'Égua, com a trouxa às costas. Eram duas horas a pé para as Minas da Panasqueira. Subíamos até à serra e, depois da serra, galgávamos vales e vales para chegar às Minas. Tínhamos de levar comer para toda a semana. Levávamos uma garrafita de azeite, as batatas, uma broa ou duas e a hortaliça. E depois cozinhávamos então aquilo. De maneira que andei lá uns tempos. Eu trabalhava cá fora na construção dos muitos pavilhões que se fizeram lá, em 1938, para albergar aquela gente. Foi no período da guerra. Vieram do Norte, vieram do Sul, vieram de todo o lado para lá trabalhar. Eu andei na construção desses pavilhões. Fui para lá em Junho e cheguei em Setembro. Dormia na carpintaria, nas aparas da madeira. Para ver como era a vida das pessoas. Dormíamos lá num aterro. Fui eu e mais um rapaz. Eu disse para o meu colega:

- Eh pá, eu vou-me embora! Eu não vou aqui aguentar. Vem o Inverno e a gente, a dormir aqui à chuva e ao frio, molha-se todo de noite. Não pode ser!

E eu disse isso ao meu pai.

- Olhe passa-se isto assim assim... Vou-me integrar nas maltas que vão para o Ribatejo, para as herdades, cavar.