“Tinha mais que 200 anos”

Lembro-me da minha casa de criança, é onde eu vivo ainda hoje. Naquele tempo a casa não caiu em cima de nós porque não calhou. Com o vento, com a chuva, com os temporais. Depois é que eu a reconstruí... Agora está melhor um bocadinho.

Era de xisto. Se calhar já tinha mais que 200 anos. Aquilo pouco jeito tinha. Os barrotes alguns já partiram. Os sacrifícios que a gente passou na vida. Miséria! Era um rés-do-chãozito e tinha a loja por baixo. Tinha um sótão por cima também reles e fraco. E depois chovia lá como na rua também.

Naquele tempo não tinha casa de banho. Agora tem uma casita de banho, mas naquele tempo não tinha nada, e ninguém tinha! Mais tarde, é que depois houve lá uma pessoa que fez uma casita de banho e depois apareceu outro, que tinha uma camionagem em Lisboa, arranjou uma casita de banho, mais de resto não havia nada. Chamavam àquilo umas retretes e iam fazer as necessidades àquele sítio. Naquele tempo, não sabiam o que era banho. Lavavam-se, às vezes, na fazenda, lá numa represa de água, tanto rapazes como raparigas. Cada qual em privado. Em casa, às vezes, era numa bacia ou num alguidar grande e era assim.