Uma feira sem dinheiro

A feira da Lourosa, que era a única feira mensal na região, que fica aqui a muitos quilómetros de distância, era onde se ia buscar o porco, o sal e a sardinha. A sardinha era o único conduto que aqui comiam. Não havia bacalhau. Não o comiam, não tinham dinheiro para o comprar. Essa feira foi criada em 1343. E funcionou 200 anos sem dinheiro. Só em 1514 é que começou a funcionar com dinheiro, Não havia permutas a dinheiro. Levava uma coisa para trocar, trocava. Por exemplo, aqui levava o queijo e levava as castanhas e trocavam as castanhas por outro artigo que eles tivessem. Às vezes por feijão, ou grão. O grão aqui não se dava. Ia lá à feira e trazia, por sal ou um porco. É interessante. Foi no tempo do reinado de D. Manuel, que ele concedeu o segundo foral a Lourosa, que começou a funcionar com dinheiro. Depois, a região já era melhor. Já arranjavam uns tostõezitos. Também iam lá trocar as éguas. A propósito os de Lourosa diziam:

“Homens do Piódão Velho,
Homens de um grande tesouro,
Vêm à missa a Lourosa
Com as suas esporas de ouro.”

Aqui, no Piódão, era a venda das cabras e dos cabritos. Vinham indivíduos de fora comprar. Levavam aos rebanhos. Iam lá para trás da serra, traziam de lá rebanhos de mais de 100, 200 cabras, que iam comprar. Havia aqueles compradores de gado. Depois passavam por aqui, iam para a Ponte das Três Entradas, lá para o Duque de Várzeas e de lá despachavam-nas para outros lados.

Ir à feira de Lourosa é um pormenor importante. Subiam à Serra do Colcorinho, lá adiante. Depois iam até Avô e dormiam em Avô. Havia lá uma senhora, chamada dona Aninhas, que tinha um palheiro. Ali é que dormiam todos a monte. No dia seguinte, levantavam-se bem cedo e iam pela estrada romana. A estrada romana não era aqui. Era a partir do outro lado da serra, em Vila Pouca da Beira. Porque as estradas romanas passavam na cumeada das serras. E então, de manhã, levantavam-se bem cedo, chegavam à feira, faziam as compras. Depois traziam tudo às costas, 1 alqueire ou 2 de sal, a sardinha às costas. Uma quantidade de quilómetros. Da serra para baixo é tudo a descer. Mas, depois de Avô para cima, para irem para Lourosa, era tudo a subir. De maneira que, se para lá subia e descia, para cá era a mesma coisa.

A minha sogra foi vendedora de sardinha. Ia lá buscá-la às costas, uma caixa. Depois ia vendê-la ao outro lado da serra do Açor, àquelas aldeolas. Corria todas as aldeias aí a vender a sardinha. Que sacrifícios essa gente não passava.