“Uns tostões”

O rebanho servia para fazer o estrume para a cultura do milho. Davam leite, davam queijo e davam a carne. Se bem que a carne, regra geral, pouco matavam a rês. Era só pelas festas. Havia indivíduos que vinham aí comprar a rês e eles precisavam de dinheiro. Era onde faziam apenas o dinheiro, porque outra coisa não. Não vendiam cereal nenhum. Só vendiam uma cabra, ou duas, ou as criações, depois em Junho. E dali é que arranjavam tostões para comprar as linhas, as agulhas, etc. etc. para as costureiras coserem as roupas. Porque hoje aparece um furo numa calça, deita-se fora. Mas, nesse tempo, não. Nesse tempo, umas calças duravam anos e anos. Porquê? Aparecia um buraco deitavam-lhe um remendo. Chegava-se ao ponto que era só remendos, da frente, de trás. Botas não havia. Era descalços. Iam buscar o mato às encostas descalços. Eu só tive botas depois, mais tarde, quando parti daqui para os ranchos.

Na cave, era onde toda a gente guardava a carne de porco. Os presuntos eram sempre vendidos para comprar o porco para o ano seguinte. É verdade. Não havia dinheiro. Não havia possibilidade. Se comesse os presuntos, não arranjava dinheiro para comprar outra vez o porco. De maneira que era uma vida primitiva. Foi uma vida de muito sacrifício para esta gente.