Do cultivo à colheita do milho

O meu pai e toda a família estavam dedicados inteiramente à agricultura. À cultura do milho. Só a cultura do milho dava o que fazer para todo o ano. Começava-se por cavar as terras à enxada, em grupos, malta de três, quatro ou seis. Cavar as terras era um trabalho muito duro. Começávamos em Março. Depois começava a sacha do milho. Depois da sacha, ali no princípio de Julho, começavam as enleiras. Enleirar é uma coisa interessante. Em sítios, por aí pelas terras baixas, aqui para o lado da Serra do Açor, era diferente. Aqui a enleira era: primeiro tinha de se aplanar a terra bem, não podia ter altos e baixos. Depois, daquele estrume do mato mais novo, que não fosse tão grosso, tão velho, fazia-se um empalho. Empalhar era estender aquele estrume por cima da terra. Traziam as águas por levadas. Havia levadas de muito mais do que 1 quilómetro. Depois era uma pessoa a cortar a água - chamavam o cortador da água. Ela, depois, nas leiras seguia por um rego, saía fora da levada principal. Havia um. Chamavam os tornadoiros. A água caía na propriedade da pessoa e depois era encaminhada pelo rego junto à parede. A parede era sempre a parte de cima. Depois havia um cortador da água e os outros, batiam na terra, calcavam a terra. Era calcar o estrume. Aquilo tinha a finalidade de segurar a água, porque senão a água passava e não regava. E assim a água retinha-se, embaraçava-se naquele estrume e aquilo ia correndo devagarinho e ia entranhando na terra.

A colheita do milho era em Setembro. A gente íamos cortar o milho. Noutros lados não era assim, tiravam só a espiga. Nós não. Nós cortávamos a cana rente à terra. Depois juntava-se aquilo às palheiras num monte e depois é que se fazia a desfolhada em volta. Nós nem chamávamos a desfolhada. Aqui era descamisar o milho. As desfolhadas era ali mais para o Norte. Aqui não, era descamisar o milho. Então, rasgava-se o folho que envolvia a espiga e pimba, zai, zai! Era todos ali, mas era a correr. Aquilo era esfarrapar os folhos e atirar a espiga para uma cesta ou, então, estendia-se lá uma manta velha e botava-se para ali. Depois até se enchiam e botava-se na cesta. Nem sacas havia, não havia dinheiro para comprar sacas. Era uma coisa tramada.