Uma vida de pastor

Isto tocava sempre aos mais novos. Por exemplo: a gente tinha aí 7 anos, o trabalho era guardar as cabras, era pastor. Era interessante. Lá em baixo, na Foz d'Égua, há um alto e ali é que eram os currais. Nós partíamos dali com as cabras. No Verão, íamos com elas para o Soito. Elas habituaram-se de tal maneira àquela regra que a gente largava-as de manhã, nunca mais as via. Então, nós íamos pelos barrocos chapinhar na água e agarrar aqueles bate-cus. Era uns insectos e a gente andávamos lá a agarrá-los. Era difícil agarrá-los. Depois punha-se na água a bater o cu. Mas aquilo era só para a paródia.

Havia na aldeia aí um souto de castanheiros. Nesse tempo, o castanheiro predominou aqui. Era uma coisa importante. Havia muita castanha e fazia parte da alimentação das pessoas. Durante o Inverno, tanto piladas como verdes, aquilo fazia parte da alimentação. Lá, no local do souto, cada um tinha uma cama por cima de um medronheiro. Então ali dormíamos. Mas primeiro comia-se. No Verão, levávamos sempre a lata para ordenhar a cabra e comer o leite e elas estavam tão habituadas que chegavam ali e deitavam-se. E era preciso a gente pô-las fora de lá que elas não saíam. Também não comiam mas, como estava calor, mantinham-se ali. A gente, às vezes, íamos lá deitar rama de castanheiro. Subíamos a um castanheiro e tirávamos rama para elas comerem. Depois de lá saíamos. Elas iam em frente ao Piódão, nos Penedos Altos. Íamos para o outro lado que era o limite do Soito da Ruiva, do Sobral Magro, porque havia muita mais erva do que deste lado. Deste lado era só o mato praticamente, a carqueja, a urgueira, aquelas que elas comiam mais. Era o dia todo. Até já vínhamos de noite.