A trabalhar nos sabões

Quando fui para a escola trabalhava aqui na agricultura, no gado. Tinha 22 anos quando fui para Lisboa e assim foi o meu trabalho 30 anos. Eu tinha lá gente conhecida e mandaram-me ir para lá. Eram, mais ou menos, família. Fui para uma fábrica de bacalhau. Para conservar o bacalhau. Estive lá só um ano porque o ordenado era pouco. Depois fui para o sabão, estive até lá 30 anos. Quando entrei para o bacalhau em 1953, ganhava 28 escudos nas oito horas. Mas também há 55 anos. Era pouco, por isso é que eu fui para o sabão, que ao fim era mais ordenado. Quer dizer, eu disse:

- Eu vou sair porque o ordenado é pouco.

Ao fim diz-me lá o encarregado geral:

- “Você é que manda. Aqui a gente paga pouco, você faça como quiser. A gente não o despede, você deixe-se estar.”

Fui então para o sabão, estive lá 30 anos. A empresa era Sabosul. Foi também uma pessoa conhecida que me arranjou. No sabão era a gente a lidar com o sabão, a fabricar, a cortar e tudo. Primeiro, não havia máquinas. Era só manual. Aquilo era um serviço muito puxado. O sabão era feito numas caldeiras. Ao sair das caldeiras entrava numa viradora de fazer frio. Quando entrava na viradora de fazer frio, ao sair, já vinha frio. Vinha em barra. Depois era cortado conforme a barra, até entrar para dentro. Os blocos pequenos eram cortados pequenos. Fazia sabão como o Clarin, mas não se dava bem o nome Clarin. Era o Trevo. Gostava de trabalhar lá. Gostava mais de, por exemplo, encher o sabão ou por exemplo arquear. Gostava, senão não lá estava 30 anos. Não foi muito tempo, foram 30 anos. Para andar a gente a mudar, também não era assim grande coisa, mudar de lado para lado. Então estive ali. Entrava às oito horas. Tínhamos três turnos. Era um turno das oito às quatro da tarde, outro turno da quatro da tarde à meia-noute e outro da meia-noute às oito da manhã. Estávamos lá 300 homens. Era uma média de 100 homens cada turno, mas quando não havia as máquinas. A partir de se formarem as máquinas e as colocarem só ficáramos 25 a trabalhar. Daqui da terra não havia ninguém. Só duas pessoas ali do Piódão.