“Devia ter ido embora”

Depois da escola fiquei a trabalhar em casa. Aquilo que não devia ter feito. Que me devia ter ido embora, porque eu naquela altura com a quarta classe já me empregava num sítio bom. Nem toda a gente tinha a quarta classe. Mas fui ficando na quinta. A minha avó depois já não podia. A minha mãe também não. E eu fiquei. Estavam doentes e eu não estou arrependida de tratar delas. Então fazia tudo o que era preciso. Cultivava batatas, o milho, o feijão, as coisas todas que era preciso. Tratava dos animais, tínhamos galinhas, tínhamos coelhos. Tínhamos tudo. Nunca saí daqui. Só em 1985 é que estive em Lisboa seis meses na casa da minha irmã quando a minha mãe esteve doente, depois ela faleceu, no dia 1 de Outubro.