Festa, dia de comer bem

Eu nunca fui assim muito amiga de festas. Ia às vezes ao Piódão, à festa da Senhora da Conceição, que tinha lá o meu avô, da parte do meu pai. E ia, às vezes, a Chãs d'Égua, à festa do São João Baptista, mais nenhuma. Não ia assim às festas. Mas a gente estava à espera da festa porque só praticamente nessa altura é que se fazia a chanfana e as filhoses. A minha avó fazia cinco quilos de arroz-doce e a maior parte era para ir fora. Cinco quilos só para a casa. E eu às vezes pensava assim:

- Então valia mais fazer um quilo ou dois. Depois acabando-se fazia-se mais. Ela dizia-me assim:

- “Comei o arroz que eu depois dou-vos um brinde.”

Mas nunca aparecia. Nem sei o que era. A gente já estava enjoada.

Também tínhamos sempre muito gado. Então matava-se uma cabra, uma ovelha ou um carneiro quando era para a festa. Mas agora a gente come dessa carne quando lhe apetece. É diferente. A chanfana temperávamos, púnhamos numas caçarolas e depois metíamos no forno. Era uma carne muito saborosa. O tempero era feito com vinho branco, alho picado, cebola, salsa, e o serpão. É que eram os temperos. Azeite, bastante azeite. Colorau. Ficava bom. Ficava muito saborosa aquela carne no forno.

De doces tínhamos a tigelada. A tigelada são ovos e leite. Eu, às vezes, para ficarem mais saborosas punha-lhes um bocadinho de canela. Quando era tudo a mexer. Fica mais escura mas fica mais saborosa. A tigelada era feita no forno. E às vezes também fazia no fogão. Conforme. Mas era bom. Tinha o pão-de-ló. Bolos caseiros, também. Daqueles que a gente fazia no forno. Fazia-se muita coisa antigamente. Fazia-se melhor do que agora. A gente agora nas festas nem lembro.

Vinha a música. Vinham a pé. Coitados, agora vêm de carro, mas vinham a pé. Eram melhores as festas do que agora. Naquela altura, a malta toda dançava. Não havia conjuntos como agora. Eram os bailes. Faziam os bailes com as concertinas. A cantar e a andar ao desafio uns com os outros. Faziam um grande baile quando era pelas festas e agora vêm conjuntos e se for preciso quase ninguém dança.