“Andei oito anos na resina”

Tornei a vir para aqui. Andei oito anos na resina, a correr matas a resinar pinheiros. Passei tanta sede no meio desses pinhais... A gente a renovar... Tinha que se fazer um corte no pinheiro. De 15 em 15 dias, tem que levar um cortezinho na casca para a resina sair. A casca era pulverizada e injectada com um líquido. A resina era junta numas tigelas de barro, que eram postas ao pinheiro. Em enchendo a tigela, tínhamos que colher aquela resina para umas latas com uma espátula. Rapava-se a resina do púcaro, ia para a lata. Rapávamos de um pinheiro, íamos a outro... Por aí, os pinheiros todos. Em se enchendo a lata, tínhamos que ir despejá-la para tambores. Havia pinheiros que davam 2 quilos. Outros davam 3, outros davam 1. Depende da qualidade deles. O pinhal nem todo é igual. Um dá mais que dá o outro. Pinheiros ao pé uns dos outros, uns enchiam o púcaro e os outros nem meio punham. Depois, acartava-se às costas para a estrada ao cimo da povoação, que não havia estradas aqui. Tambores de 60 quilos às costas, que a gente levava naquele tempo. Levei para lá tantos... Depois, vendíamos. Naquele tempo, a resina valia muito dinheiro. Era bem paga. Era metida em bidões e carregada nas camionetes, lá para as fábricas para Santa Comba, para fazerem certas coisas. Não sei o que é que faziam com aquilo.

Nessa altura, trabalhava por minha conta. Trazia aí pessoal. Uns anos, dava, outros anos, não dava. Tantos anos que eu fiquei sem ganhar nada! Tive um ano que fiquei sem um tostão, para pagar as despesas todas que tinha com o pessoal. Nós pagávamos um “x” em cada pinheiro. Naquele tempo, era 5 escudos por cada bica daquelas. Cada pinheiro tinha a sua bica. Um gajo fazia as contas ao pessoal, pagava as bicas, pagava tudo, íamos fazer as nossas contas, ficávamos quase a olhar para as mãos. Aconteceu-me isso dois anos. E farto de bater mato em todo o Verão. Andar aí no meio dos matos a resinar. Naquele tempo, estas encostas era tudo pinhal. Era tudo resinado até em cima à serra.