“Tudo às costas”

Andava por aqui a cultivar a terra mais a minha mãe. Naquele tempo, a gente tinha gado também. A nossa vida era essa. Havia de amanhar as terras, cultivar, acartar lenhas e ajudar a fazer todo o trabalho. Era tudo às costas. A gente ia daqui à Vide buscar carregos às costas a pé “pia fora”. Demorávamos quase um dia. Naquele tempo, vendiam e compravam ovos. As mulheres iam vendê-los à Covilhã a pé, com as cestas à cabeça. Chamavam-se as galinheiras.

No meu tempo, era tudo centeio. A gente ia para lá cavar de manhã. Levava uma côdea de broa, uma bucha, dentro de um saco, de um cesto, e passava o dia inteiro a cavar e a cortar giestas. Cavava-se a terra para o fim de se queimar e fazer borralha. Aí é que se semeava o centeio. Naquelas encostas, por cima da povoação, tudo dava centeio. À noite, ainda vínhamos carregados com lenha para aquecermos os pés.