Na cerâmica

Vim para Portugal em Março de 1972. Depois fui logo no mês de Abril para uma colónia de férias. Fui para Sintra. Estive lá até Setembro. De 20 em 20 dias mudava-se o grupo. Primeiro começou com um grupo de pessoas de idade. E depois é que começaram as crianças. Foram-se revezando até Setembro. Em Setembro fiquei doente. Já lá não fui fazer as limpezas.

Até que a minha irmã foi comigo a uma fábrica de cerâmica em Lisboa e fiquei lá. Eu lembra-me do encarregado dizer assim:

- “Olhe, já pode vir amanhã.”

Tive sorte. Portanto, fui lá a uma segunda-feira, terça-feira fui trabalhar. Depois, quinta-feira era o dia 5 de Outubro que eu nunca tinha tido aquele feriado. Foi logo um feriado depois de dois dias. Ficou-me na recordação porque foi bom. Lá estive 19 anos. Em Outubro, dia 3, entrei na fábrica. Fazia de tudo um pouco. Havia uns azulejos que faziam lá numa prensa. Eram uns azulejos com relevo mesmo na chacota. O meu primeiro trabalho foi aquilo. Calhou aquele dia. Púnhamos assim quatro pedrinhas, em cada canto sua, e depois colocávamos outro azulejo. Depois tornávamos a pôr as quatro coisinhas, tornávamos a pôr outro, até 20. Fazíamos aqueles carrinhos e depois íamos pôr noutra mesa. Foi o meu primeiro trabalho. Depois, tínhamos uma máquina, em que nós tínhamos que estar ali, às vezes, dias inteiros de pé, a aparar os azulejos. Eles vinham vindo e nós ali apanhávamos o azulejo. Fazíamos também carrinhos de 20. Depois enchíamos umas prateleiras cheiinhas daqueles azulejos. Era posto na mesa para outras trabalharem. Depois também havia outros que era trinchados. A senhora reformou-se e depois já era eu. Passamos-lhe com uma trincha, ficava a tinta logo. E outros era vidrar a chacota. Uma mão deitava com uma tigelinha pequena e a outra mão dava-lhe a volta de maneira que a tinta ficava logo espalhada. Era vidro mesmo. Depois ia ao forno cozer. Era vidrado no azulejo. Também era com uma estampilha. Também se colocava e depois passava uma trincha por cima da estampilha para ficar aqueles desenhos. Havia arranjar a loiça. Também vidrava. Mergulhava-se a loiça naquele tanquezinho de vidro, mas tinha-se que se baldear de maneira que ela ficasse bem. Depois punha-se em cima de mesa. Tínhamos que tirar-lhe aquele bocadinho por baixo para não se pegar ao forno. Havia muitos trabalhos ali para se fazer.