“Foi tempos de sacrifício”

Às vezes deitávamo-nos num palheiro ou assim. Havia sempre aquele receio. Estava habituada sempre a dormir no meio. No meio, de Inverno, dormíamos mais quentinhas. Se era de Verão também. Naqueles palheiros, às vezes, tinham pasto e nós deitámo-nos. Outras vezes, também me lembra, deitávamos a roupa no chão e dormíamos só naquela roupa. No Tortosendo, então, já faziam muito. Era o senhor Trindade. Dormíamos lá numa casa que tinha assim umas três senhoras. Elas iam lá traziam uns cortes àquelas fábricas, depois era deitada assim no chão, com aquilo assim às camadas. E dormíamos bem de cima daquelas coisas. Naquela altura foi o tempo do sacrifício, mas andávamos confiantes.

Já mesmo depois de rapariga, eu ver aquele cartaz que havia à porta de uma loja de panos e dizia assim: “Protecção às raparigas” E olhe que durante aqueles anos todos nunca tivemos um mau toque. Nunca tivemos nada. Às vezes, vínhamos para ali da serra de noite, passávamos lá no Sobral e diziam assim:

- “Ó meninas fiquem cá, durmam cá.”

Mas às vezes, ainda era assim um bocadinho cedo, abalava. Lá saíamos mas depois na serra anoitecia. Mas, graças a Deus, nunca tivemos perigo nenhum. Foi tempos de sacrifício, mas eram tempos que andávamos confiantes que não nos acontecia nada. Sempre só raparigas até aos 31 anos. As minhas irmãs casaram, foram para a casa delas. Eu é que estive em Chãs d'Égua sempre.