“O viver da minha mãe”

A minha mãe ficou cá em Chãs d'Égua. Só uma vez, já eu era nascida, foi a Lisboa estar lá um tempito. Diziam-me que eu tinha 1 ano. Esteve lá pouco tempo, veio-se embora e viveu sempre aqui. Fazia tudo. Posso dizer que casou com 17 anos. Ela dizia:

- “Foi 17 anos e meio.”

Quer dizer, fez anos em Março e depois casou dia 3 de Outubro. Até foi o dia 3 que eu também entrei para a fábrica em Lisboa e lembrava-me que era o aniversário do casamento da minha mãe. Portanto, seria os 17 e meio mais ou menos. Mas ela foi uma menina que se soube orientar. Ela não sabia costura. Mas, como tinha pouco dinheiro, comprava os trapinhos para fazer os vestidos para os meninos. Depois fazia um talhozinho por o papel. Colocava em cima daquele pano e fazia. Dizia ela que agradecia muito ao alfaiate cá da terra que muitas vezes cosia-lhe à máquina para ser mais depressa. Senão, tinha que coser à mão. Mas ela foi-se orientando a fazer aquelas coisinhas porque poupava muito dinheiro. Ia às feiras e trazia aqueles bocadinhos de pano mais barato. Economizava já muito porque fazia por ela. Lembra-me ainda uma blusa que ela me fez. Ela, quando foi talvez aos 20, nasceu o meu irmão. Já tinha tido outro menino que morreu. Em dois anos e meio teve dois. Foi uma vida sacrificada, é verdade. Depois teve sete filhos. Lembro-me, eu tinha 7 ou 6 anitos, ela levantava-se cedo e começava a fazer roupa. Ela levantava-se e eu também. Estava para ir para o correio. É uma coisa que me ficou muito marcado, o viver da minha mãe.