“Não aprendi como havia de ser”

Tinha 7 anos quando fui para a escola. Antes de ir para a escola, íamos primeiro ao mato. A minha mãe fazia o molho e eu trazia. Chegava à porta dos animais que tinha, e ala para a escola. Depois da escola, ia deitar as cabras, que a gente vinha cedo. Também só lá andei um ano na escola. Ao fim a professora foi-se embora. Eu gostava muito dela. Mas sempre cheguei a aprender o meu nome. Mais o resto, leio algumas coisas, mas não aprendi como havia de ser. Sabia a tabuada toda e fazia as contas de cabeça. Agora não sou capaz. Cheguei ao fim, passou-me. Escrevíamos numas pedras pequenas iguais às do quadro. Só que tinha umas beiras a toda a volta e ali é que a gente escrevia. Para aprendermos primeiro era nas pedras. Estivéramos cá muitos anos sem a professora. Depois, mais tarde, talvez aí passados uns dois ou três anos, é que então veio uma. Mas era para aqueles mais novos. Eu já era mais crescida e, então, tínhamos era que trabalhar. Usava-se disto. Gostava de ter continuado a escola. Uma das minhas irmãs ao fim andou. A outra estava a tomar conta dos avós, dos pais do meu pai, não chegou a ir à escola. Mas a mais nova, essa ainda lá andou. Ainda fez a quarta classe. Eu lembro-me: o pai do meu pai estava entrevado e então o meu paizinho pô-la lá. Ela agora, coitada, diz muitas vezes que podia ter aprendido a ler, que não sabe, que por causa dos avós não aprendeu.